2008-04-11
Janela indiscreta
Quis despir-me…
A cada esquina que virava, era uma peça de roupa que ia deixando cair ao chão, libertando-me a pele.
Sempre sem nunca parar, tinha hora para chegar.
Pelo caminho ia observando o meu progresso através do espelho das coisas com que me cruzava. Como se percorresse um caleidoscópio gigante com objectos e seres que me rodeavam, sem eu nada decidir quanto a isso, e influenciando o meu pensamento a cada encontro:
A cada esquina que virava, era uma peça de roupa que ia deixando cair ao chão, libertando-me a pele.
Sempre sem nunca parar, tinha hora para chegar.
Pelo caminho ia observando o meu progresso através do espelho das coisas com que me cruzava. Como se percorresse um caleidoscópio gigante com objectos e seres que me rodeavam, sem eu nada decidir quanto a isso, e influenciando o meu pensamento a cada encontro:
Uma menina de feições familiares reflectia-me líricas estórias de paixão platónica;
Já um enorme mostruário frigorífico contava-me de que tipo de matéria eu, pertença do animal, sou feito, carne, vísceras, sangue e ossos;
Um casal de idosos com uma recíproca atenção um para o outro trazia-me ao espírito um exemplo claro de persistência no afecto e uma longa (e quase terminada) narrativa a duas vozes;
Agora, aproximando-me de casa, a mudez da janela escura e de persiana semi-cerrada, da distante e solitária senhora que ali vive, lembra-me como é difícil, mesmo no silêncio, ou se calhar por causa dele, dar voz aos sentimentos.
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