2009-07-30

Estrela da manhã, mais já para o meio-dia


"Kiev-Becenka"

Quem sabe um dia não estarei daquele lado? Nunca se sabe, não é? ...e a vida dá tantas voltas...Às vezes até me sinto quadrado, arestas afiadas. A cor: Violeta, azul, cor-de-rosa, laranja, verde, castanho. Que interessa?
Quadrado,... ou rectângulo, ou hexágono,... Um arco...?
Um arco é especialmente adequado: Pela falsa impressão de mobilidade, basta olhar para os pés de uma cadeira de baloiço; Pela falsa impressão de harmonia, a sua intrínseca incompletude o impedindo.
Claro que sinifica ligação, liga de um lado ao outro,...mas sendo esta estática, também assim não me satisfaz.

Se ao menos eu encontrasse umas flechas!!!

2009-07-25

Estrela da manhã



De manhã cedo, bem cedo, a luz atravessa a vidraça ondulada da janela. O céu de nuvens altas e opacas ilumina a rua com uma claridade cansativa para o olhar. A cor branca é amplificada cá dentro, pelas paredes que me rodeiam e pela roupa que visto. Aqui faz menos frio, não se sente a brisa fresca, mas também não se ouve vivalma. Uma paz sepucral que a alvura torna quase angélica, sem contudo partilhar da pureza da palavra...Lucifer...terá ele vivido num sítio assim?

Um aroma desagradável a cigarro queimado invade-me o espaço e arranca-me a este torpor matinal. Um velho, de ar gasto e desiludido, mais pela vida que não viveu que pelos anos que já lhe passaram pelo corpo, atravessa o corredor, arrastando levemente as suas pantufas pelo chão. Olhamo-nos sem emoção ou significado, apressando, sem delongas desnecessárias, o momento de regresso às nossas respectivas solidões. A inércia do meu pensar contudo arrastou-me para uma inócua divagação acerca de que vida estaria por trás daquele espectro e logo se projectando numa espécie de preguiça mórbida para o seu fim, por exemplo, uma doença terminal e resolutiva, um cancro talvez.

Lá fora, no jardim, alguns passáros cumpriam um ritual já de mim bem conhecido, o saltitar em busca de algo que os sustentasse durante mais um dia. Talvez cantassem, ou chilreassem, mas eu não os ouvia. A janela de madeira, também ela pintada de branco isolava-me dessa minimal demonstração de vida. Eu sabia que daí a pouco tempo ir-me-ia juntar aos outros, numa grande sala, para aí também nós comermos, creio que o pequeno almoço, não sei, nem me interessa, e assim alimentarmo-nos para este novo dia. Por agora ainda estava em paz, já ouvia movimentos nos corredores, mas eram afastados do recanto que eu escolhera para, sem saber bem porquê, observar desta janela os primeiros momentos da manhã. Talvez algum brilho assomasse ao meu olhar na vaga expectativa do que resultaria da conjugação desta inconsciente vontade e das oportunidades oferecida pelo nascer do sol.

Ao mesmo tempo que vagueava a mente por estes pensamentos, deambulando o olhar, reparo, entre as copas de duas àrvores e onde o tecto de nuvens não descera, no brilho desvanescente de uma estrela. Atrai-me aquele astro sumindo-se na luminosidade - chaque étoile a besoin d'une negresse - a frase emerge ao meu pensamento, ainda que não talvez por estas exactas palavras, ainda que talvez não só como frase, mas também como imagem. A língua, a forma gráfica ou poética, tudo isso não importava mais que o significado de que cada estrela precisa de uma escuridão para brilhar. Esta perante od meus olhos parecia estar a lutar contra a sua própria natureza, ou talvez pior ainda, por uma vontade àvida e louca de ter a escuridão apenas para si agora que as outras estrelas haviam desaparecido. Fico uns momentos a contemplar aquele combate por Luz, sem nobreza, nem glória, até que chega a minha hora e parto para para me reunir com os outros no refeitório de altas paredes brancas.

No caminho ainda penso - Volto aqui ao anoitecer...- sabendo agora bem melhor o porquê:

"Une étoile caresse le sein d'une negresse".

2009-07-22

Rua!...


Um destes dias ia eu na rua, ... e dizia eu que, ia e uma vez chegado ao fim desta, virei-me para o lado e na esquina deixe-me ficar ali, encostado.
"Ombro na ombreira" , mal parado.
Veio comigo ter o polícia:

- Oiça lá vossemecê, faz aqui o quê?
- Pois, falo consigo, respondo-lhe.
- Ah, engraçadinho!...Olhe que comigo não brinca. A circular, vamos! Circular!

Não era, era rectangular. Como aliás, quase todos os quarteirões. Mas não discuti, desencostei-me e lá fui eu...



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