2007-12-29

eh,pá...textos...!

Abri os braços para o infinito

Abri os braços para o infinito e contemplei o céu estrelado. De imediato senti a sua calma indiferença. Poderia tentar modificá-lo fosse de que maneira fosse, com todas as minhas energias e de toda a minha vida que o efeito seria simplesmente nulo. E esta constatação, como resposta e também de imediato, encheu-me de paz. Mas a energia ficou então comigo, e de novo, mesmo que eu tentasse, ela não me permitiria que eu respondesse com indiferença à indiferença que senti. E por isso tive de escolher para onde a dirigir, e volto a escolher, e volto a escolher....E aí passo a sentir a infinita diferença entre o somente ser e o sempre ter de escolher.

A telefonia não parava de tocar

A telefonia não parava de tocar, eu queria dormir mas não conseguia.
Quando finalmente me acalmei apercebi-me que a música que tocava no momento era-me familiar. A atenção da minha mente, exausta, focou-se naquele momento na suave melodia e serenei um pouco. Mas era uma paz ilusória, apesar de estar a escutar aquele som entretinha-me a criar pequenas fantasias, aparentemente inofensivas a partir do que ouvia, não me apercebendo contudo de que subtilmente as tomava como realidade e isso é que já não era inofensivo. Imaginava, desafiando-me a mim mesmo, que adivinharia a música seguinte, e ... adivinhava...Sem me aperceber, a fronteira entre o que eu desejava, ou que eu imaginava, encontrar no mundo que me rodeava e a realidade em si mesma esbatia-se sem eu dar conta disso e somente à conta de um processo mental gerado em mim.

Uma mão tocou-me no ombro, estava embrenhado nestes pensamentos, mas por instinto pus sobre ela, a minha mão e uma sensação de calor agradável invadiu-me o peito e dissipou-me estas deambulações vertiginosas. Em breve adormeci para só despertar já manhã alta esquecido do pesadelo que sonhara ainda acordado.

O amor, ... a um pensamento.


O amor, quando eu o conheci, olhou para mim,sorriu e disse:
- Eu sou apenas uma mentira, mas podes fazer de mim o que quiseres.

As circunstancias em que tal aconteceu, não sei explicar muito bem. Um conjunto de acasos como em tudo o que acontece.Só que a maior parte das vezes estamos mais concentrados em objectivos e nos passos e meios para os atingir que esquecemos o papel do acaso. Pensar só no acaso torna tudo também muito contingente, não se decide nada, tudo é permitido, tudo pode acontecer mas não adianta fazer nada para que aconteça.

A acção presente repercute-se no futuro e no modo como encaramos o momento, está associada à perspectiva que temos da realidade e o caminho que seguiremos.

O pensar livre, é livre, pensar.

Há sempre algo que começa depois de se acabar outro algo. É verdade, vejo as coisas de modo diferente. Tenho uma nova perspectiva, mas nunca acaba aqui. Facilmente tenho dúvidas.É-me muito difícil simplificar. É quase uma tentação buscar ou inventar o complexo e não o simples e que é muitas vezes também o mais verdadeiro.Claro que devo contrariar isto, porque me diminui e torna-me mais infeliz.

So, we meet again?!..

So you’re here again?
I am!
O que te queria dizer neste Natal é o seguinte:
Nada é assim tão importante que te prenda num infinito de atenção, aquela absoluta certeza que é tão segura quanto é uma prisão. Um momento surgirá em que o movimento das tectónicas das placas, o bater de asas da maldita borboleta do outro lado do planeta, a merda do carro que teima em avançar de encontro o obstáculo, a fúria de uma manhã daquele tipo que tem poder para te poder lixar à grande, e o processo lento e demorado que te bloqueia o mover e consome até ao ínfimo da tua paciência, a impassividade de alguém que não te sendo totalmente estranho por isso mesmo não pode estar tão distante de ti estando próximo, um erro de pura distracção ou benevolência, tudo isso e claro muito mais pode alterar essa segurança. Afinal a paz é um bem caro nem sequer tem preço a economia não o pode dar, poderá talvez ajudar a encontrar mas isso é rebuscado para caralho.
Fim inglório, e nem a glória se buscava só uma paz se anseava
Um cérebro em fuga é o que se traga e isso sim é certo que não leva a nada. “Mas se o nada é mesmo ao que tudo vai dar dê-me dois ou três para eu guardar”
A mudança é um bom lugar que existe em qualquer lado pois não haja em breve há-de chegar. Um modo de a trazer é criar. Trazer até aqui os traços de outro lugar em que o que se encontra não é a fuga mas a chegada a outro lugar que se quis alcançar.
Sem impôr mas também sem deixar pois a paciência não leva a todo o lugar.
Se a ementa é perú para o jantar porque não trazer caviar?

Atelier e artistas.

Esta tinha um atelier e a outra tinha não sei o quê...
Foram-se as duas, ou já nem sei, as três?
Em tudo se entendiam, num mundo que em volta era simplesmente exigente
Mas de uma grande complexidade feita dos homens contra os homens, isto porque “interessa a muita gente” havia quem dissesse. Eu não sou de intrigas mas até pode ser verdade. Afinal todos nós temos interesses senão como é que nos levantávamo-nos todos os dias de manhã, até poderá ser assim. E no entanto sente-se na pele, no dia a dia, e é um pela-te para te descontraires. Um peso enorme esse de achar que é possível reduzir o absurdo das emoções humanas a quadro lógico pelo qual nos podemos guiar. Que raciocínio pode um fígado, mesmo que são, poderá fazer? O que esse quer é açucar para metabolizar. O músculo quer o oxígénio para nos pôr a andar e no entanto pensamos que não que é muito, mas mesmo muito mais que isso. E se calharw não se anda a pensar em nada. Afinal o que se pode guardar numa mão fechada, por exemplo, nada. É que isto de muito elaborar muitas vezes é só inventar uma vida dupla, e esta por não se duplicar, deixa-se é estar, vai o vivente à sua outra vida e deixa a outra por experimentar. Que ansiedade hem? Este modo de pensar, terá sido de todas as coisas que entretanto neste tempo de vida me pus a pensar. A pensar na vida nada vou encontrar....
O mar sim é garantia de um largo observar, o raio das ondas sempre a marulhar. Uma, duas, três, tento mas não as consigo contar, aliás, nem tento pois não conseguiria acabar. Olhinhos tenho eu, e ouvidos para o escutar, o mais é um bem que vem de fora, de lá longe, daqui de perto, da beira-mar, desta praia que se estende para a imensidão azulada de onde tantas vezes me apetece mergulhar. Umas, duas, três vezes não me consigo fartar.
Finalmente, não sinto a importância que me costumo dar...

Um final feliz

Algo talvez execrável, um insecto. É uma forma de vida, nisso igual às outras. Mas a sua definição não é o importante agora, nem mesmo os seus antecedentes ou a sua origem, encontramo-la, isso sim, numa fase crucial: O tempo já está mais quente, começa o Verão, preso por uma matéria gomosa na ponta de um pequeno ramo o casulo, está exteriormente imóvel, expectante. O momento exacto é impossível de definir, mas a partir de certa altura algo no interior daquela casca ressequida começa a mover-se. Não é logo claro o sentido da movimentação, mas em breve, uma superfície arredondada, brilhante e viscosa começa a surgir do topo do invólucro perfurando-o. Aos poucos uma secção semelhante a uma cabeça sai para o exterior. Liberta, erguem-se duas hastes em forma de antenas. O resto do corpo no entanto continua prisioneiro da antiga morada. É nesta altura que se torna evidente como se trata de um processo delicado e frágil. Este ser vivo está o mais próximo que se pode estar de um limbo. De reserva de potencial de vida, confinada a um pequeno espaço hermético este ser está agora prestes a tomar uma nova forma, num novo mundo, que engloba na verdade tudo o que está para além do pequeno cofre, e em que as novas características que agora o formam são os meios de que dispõe para neste agir e viver. Mas, enquanto tal não acontece finalmente, os segundos passam na expectativa do desenrolar desta transição, e o que sucederá será determinante na existência ou não de um futuro para o insecto.


Era uma vez um plano

Era uma vez um plano. Um dia esse plano teve um ponto. Era esverdeado. Primeiro o verde era claro, vivo e fluorescente. Com o passar do tempo foi escurecendo. Quando já estava bastante escuro começou a andar de superfície em superfície, algumas rectangulares, por outras vezes quadradas. Outras alturas eram circulares, ou mesmo, ovais.
Na sua trajectória em direcção ao infinito azul-de-chumbo, o seu destino final, o pequeno ponto ia então aterrando ora num cilindro ou raspava ao de leve numa bola, ou assentava em cubos, ou então paralelipípedos, etc. Em nenhum se detinha demasiado tempo.
A sua direcção parecia sempre ser a do azul-de-chumbo, por isso, e se em troços deste trajecto os sólidos se dirijiam nessa mesma direcção, rapidamente, e face a novas conjunturas, mudavam de rumo. Era aí que o ponto verde saltava para o espaço. Se bem que era um momento de libertação, também lhe causava transtorno, perder o seu ponto de apoio. Afinal era um ponto pequeno e, no meio da confusão do cruzamento veloz das várias figuras geométricas que viviam no seu mundo, sentia-se mais vulnerável. Havia de tudo, incluindo outros pontos, uns bens maiores que ele e que conheciam outras paragens.
Certo dia encontrou um losango, era amarelo, de um amarelo pálido, mesmo assim, no meio daquela agitação toda parecia ser uma presença forte. Não pela imponência, porque até, se não se estivesse muito atento, não se daria por ele. Acontece que o losango estava praticamente imóvel, exceptuando o facto de tempos a tempos girar sobre aquilo que eram os seus dois eixos naturais, ou seja um vertical que o atravessa longitudinialmente na parte em que a distância entre as suas duas pontas era maior e outro, horizontal na distância das outras duas pontas.
Era através dos dois tipos de movimentos que os seus eixos lhe permitiam que o losango se ia conseguindo desviar dos outros sólidos, superfícies , linhas e pontos que por ali cirandavam, geralmente, a alta velocidade.
Claro que o losango não estava preso por nada àquele sítio e que se quisesse era livre de partir para outro lado, só que parecia preferir não o fazer.
O ponto deteve-se a observá-lo e aos poucos a imobilidade do losango começou a serená-lo. Aliás só por o estar a observar tinha ele mesmo de ficar parado. Mas não se sentia de modo nenhum seguro. Ao aproximar-se um cilindro enorme no sentido do seu almejado azul-de-chumbo ainda pensou, por momentos, em saltar para cima dele. Ou quando uma bola preta e não muito grande mas que cortava o espaço a grande velocidade como um raio na mesma direcção ainda vacilou e estremeceu.
No entanto aos poucos apercebeu-se que como era um ponto de pequenas dimensões não precisava de se mover muitas vezes e podia-se permitir a ficar estável no mesmo local. Às tantas acabou por reparar que até conseguia ficar sossegado mais tempo que o losango, muito maior que ele.

As pessoas, essas insubordinadas

As pessoas, essas insubordinadas, não é que no outro dia ia eu muito bem e apareceram umas cinco, mesmo ali à beira da estrada, foi então que reparei que uma estava descalça. Era um jovem e usava o cabelo como se fosse punk, tinha o rosto bonito e elegante, altivo.
Foi ele que avançou para mim e pediu-me um cigarro. Eu, por acaso, que não fumo, tinha no entanto, um maço de tabaco na mala e entreguei-lho.
O homem provavelmente tinha cancro de pulmão, estava amarelo, e tossia
asperamente. Era um inconsciente, mas deixa lá. As outras pessoas entretanto desapareceram na esquina no rebuliço da cidade. As montras estavam com cores garridas, aproximavam-se os saldos e este ano prometiam. Já saturava encontrar todos os dias aquelas saias frisadas com folhos, a moda de inverno. O frio que as moças não deviam passar. O que vale é que a primavera estava aí a chegar, já se podia pensar em roupas diferentes, giras. Dirigi-me à estação para ver as ofertas de viagens mas irritou-me a mulher do guichet, uma gorda asquerosa que se entretia a limpar as unhas e a limá-las enquanto os clientes, eu incluída, esperávamos. Há pessoas que não têm noção são pagas para trabalhar mas fazem o mínimo possível. A pensar nas brasileiras nordestinas que não têm educação nenhuma, se calhar faziam melhor que esta aqui, só o em barulho é que são insuportáveis, a sério. Não sei o que é pior.
Não compro nada hoje. De qualquer modo não há quase lojas em saldos, vou esperar uns dias.
Ando a precisar de espairecer .... Se calhar podia combinar com o Luís e ia ver aquele filme espanhol no FilmTake que estreou esta semana, a Susie já viu e gostou muito. Não percebo é porque é que há-de ser acerca de uma história de prostitutos homossexuais com queda para o revivalismo da pintura expressionista. Era capaz de ficar melhor os dois assuntos em separado, por um lado os paneleiros, do outro os quadros, assim até falavam de pintores mais famosos e podia-se incluir o Vermeer no filme, para aprofundar o tema.
Mas ainda não almocei, onde é que posso comer qualquer coisa? Não é que tenha muita fome, até porque ontem aquela feijoada à transmontana que comi, e que estava um pitéu, ainda não passou totalmente o seu efeito. Ao terceiro prato já estava um bocado cheia, só sobrou espaço para um leite creme.
Não é que isto está cada vez pior ?... O Ricardo voltou a deixar a porta da caixa do correio na entrada do prédio aberta. Quer dizer, uma pessoa entra e quase que esbarra com aquilo ali. Eu já o tinha avisado. Qualquer dia passo-me e entro-lhe casa a dentro a dizer-lhe que a entrada do prédio é de todos e se ele precisa de ver a cartas, as pessoas também precisam de passar. Vivemos todos no mesmo espaço, precisamos de nos respeitar. Se isto for cada um a puxar para seu lado nunca se chega a lado nenhum. Enfim...
No outro dia lembrei-me do Che Guevara, ele conseguiu tantas coisas e lutou sempre por aquilo em que acreditava em busca de um mundo melhor. Claro que os ideiais são distorcidos depois por outros com menos escrúpulos e assim o próprio idealista se vê preso em circunstâncias onde não se desejava encontrar.
Aquela janela é tão linda!... para me sentir feliz basta-me olhar para ela...De madeirinha branca e as rendinhas, parece-me de uma casa dos Strumpfs! Acho piada porque depois contrasta com as chaminés da fábrica de moagem, em segundo plano, já mais perto da linha azul do horizonte. Também gosto das torres altas, de tijolo vermelho, parecem cogumelos gigantes a apontar para o céu.
Caralho! A merda do taxista ali em baixo quase que ia atropelando a velha, foda-se! A sério, as pessoas na estrada parece que não pensam! Devem achar que são as maiores, as donas da estrada. Então os fogareiros ... não têm cuidado nenhum e volta e meia atropelam alguém.No outro dia foi um jovem de rosto bonito e elegante, altivo, que ia a atravessar a estrada.

Viagem ao centro do universo

Imagina-te no centro do Universo, se este é infinito pode ser em qualquer sítio, desde que seja o centro. Encontras-te suspenso num pedestal nesse infinito. Tudo o resto, desde a mais pequena partícula de matéria até ao mais subtil pensamento e a base química e orgânica sobre a qual este se constrói, te rodeia. Estar onde te encontras significa não só estar em média à distância mínima de todas as aquelas coisas, como a melhor posição para as observar cuidadosamente. A tua consciência não poderia estar mais ciente do cosmos total, tudo abarcando. No entanto, quando tentas, como os demais teus semelhantes, agir sobre ele, mesmo que seja ao nível de um pensamento, a realidade some-se do teu alcance. Os objectos de que tens consciência não se deixam manipular em concreto, como imagens que não têm substância e por isso sobre as quais qualquer acção é inútil. É nesse momento que te apercebes que o que tu pensavas conhecer não tem a natureza que julgavas que tivesse. Esse conhecimento, que te daria algum poder, o poder de tentar agir sobre o objecto, revelou-se falso e foste destituído desse poder. Assim continuas no lugar onde estavas, no centro do Universo, mas repetindo-se as várias tentativas de acção infrutíferas e reveladoras da mesma ilusão, vais-te sentindo cada vez mais só e indefeso perante um universo infinito à tua volta e do qual afinal nada sabes. Só te resta uma única alternativa, olhar para o que te está próximo, a mais mínima coisa, desde os pensamentos que discorrem na tua mente, até ao objecto que a tua mão toca, e buscar conhecê-lo, desde o início, para ter a segurança de que te aproximas da sua essência, da sua substância, sobre a qual enfim poderás tentar agir, se for essa a tua vontade.

A lua


Olhei-a, mais fixamente, tentei-a ver mais de perto, mas ela movia-se. Não era muito, mas o suficiente para perceber que em relação a um e ao outro não estávamos estáticos. Ela lá em cima, sobranceira, dominando o firmamento, eu cá em baixo tentando-a fixar. Tentei-o por sucessivas vezes, algumas das quais com instrumentos, dir-se-ia que rigorosos, outras por comparação a pontos de referência, mas logo num instante as medidas se alteravam, ou a comparação evoluía veloz demais para a minha observação. Para agravar a instabilidade das nossas posições relativas acrescia ainda a situação de me encontrar num navio que quanto mais não fosse por estar sempre em rumo a determinada direcção, ainda oscilava aleatoriamente com as sucessivas e incessantes vagas.
Sentei-me no convés e predispus-me a discorrer sobre a contínua passagem do tempo e da nossa impotência para controlar a todo o momento a infinidade de factores que determinam o nosso destino. Mas ninguém mais estaria com vontade... E ainda bem, para todos.

Diálogo em final de dia de calor na piscina


Estava um calor húmido, o ar estava abafado, dificilmente respirável:
− Isto parece Cuba!
− É, não é? Parece daqueles países ...
− ... tipo Cuba
− Uma pessoa sai da piscina e sente esta bafo.
− Nestes dias sabe bem vir à piscina...
− Normalmente é lá dentro que está quente e húmido, mas hoje é cá fora que é pior!
− É quando é que é o jantar?
− Não sei, organizem-se. O pessoal tem de se organizar.É o jantar de verão.
− Agora é de Verão, Carnaval, tudo junto. Tchau!
− Tchau, até quinta!

Gustavo – ideia solta

Gustavo vive sem critério
Mais leve que oxigénio.

Gorgulor – ideia solta

Um pântano onde se move o Gorgulor

Alfaite

Desliza sobre a àgua na qual se reflecte a luz


Um final feliz

Algo talvez execrável, um insecto. É uma forma de vida, nisso igual às outras. Mas a sua definição não é o importante agora, nem mesmo os seus antecedentes ou a sua origem, encontramo-la, isso sim, numa fase crucial: O tempo já está mais quente, começa o Verão, preso por uma matéria gomosa na ponta de um pequeno ramo o casulo, está exteriormente imóvel, expectante. O momento exacto é impossível de definir, mas a partir de certa altura algo no interior daquela casca ressequida começa a mover-se. Não é logo claro o sentido da movimentação, mas em breve, uma superfície arredondada, brilhante e viscosa começa a surgir do topo do invólucro perfurando-o. Aos poucos uma secção semelhante a uma cabeça sai para o exterior. Liberta, erguem-se duas hastes em forma de antenas. O resto do corpo no entanto continua prisioneiro da antiga morada. É nesta altura que se torna evidente como se trata de um processo delicado e frágil. Este ser vivo está o mais próximo que se pode estar de um limbo. De reserva de potencial de vida, confinada a um pequeno espaço hermético este ser está agora prestes a tomar uma nova forma, num novo mundo, que engloba na verdade tudo o que está para além do pequeno cofre, e em que as novas características que agora o formam são os meios de que dispõe para neste agir e viver. Mas, enquanto tal não acontece finalmente, os segundos passam na expectativa do desenrolar desta transição, e o que sucederá será determinante na existência ou não de um futuro para o insecto.
Tee Break

- I am always at the edge of the abyss, and tend to keep looking at it.
- Why is that? What attracts you in there?
- The feeling of peace. Eternal peace.
- You prefer launching yourself to the unknown than to walk the solid ground we step on?
- I do, it gives me the sensation of boundless freedom and ultimate peace.
- But you have two legs, not a pair of wings! They are made for walking, not for flying! Come, come with me and join me for a cup of tee.


Da prisão

Estás preso, preso a algo que te controla, um medo, medo de ir mais além. Fechares-te no teu mundo não resolve nada. Ficarás mais longe dos outros e alienado de ti.

Tempo


Entretanto o candelabro arde,...
Sabes que o peso do tempo sempre tem os seus efeitos, são rugas, calvícies, sonhos desfeitos.
E que dizer dos tempos que se criam nos palcos da imaginação, em fuga dos que se vivem no agora, numa autêntica acrobacia, tudo para tentar enfrentar o futuro antes de tempo,...uma perda de tempo,..

Da dureza

... E porque és tão duro contigo e te levas tão a sério?! Que merda! Uma pretensão de arrogância, uma protuberância, uma merdosa abundância, um lastro que me arrasta para mais baixa instância, corta-o, corta-o, corta-o, em todos os cabos que vires, porque é essencial.

Do meu lado escuro

O meu lado escuro. Sempre me senti pouco à vontade com ele. Abismos, negrumes, ser monstruoso, motivos vis, etc. ... E no entanto ele aí está! A minha relação com ele seria diferente se não insistisse tanto no contraste a preto e branco e apostasse no cinzento que é o padrão que me permite descer mais à terra, onde enquanto vivo, pertenço. ... É uma caminhada que não se faz só de um passo.

In my life

In my own life I live more than one, awkward it may seem, that is close to say I’m living none.


Palavras soltas ao vento

Distância, diferença, a presença
Discrepância, ausência, indiferença
Aborrecimento, prisão, solidão,
Fuga, mentira, engodo, vazio

Ataque

É preciso encontrar uma defesa para este ataque, ou seja, um ataque. Estar atento e antecipar os golpes, partir logo para o contra-ataque, mas melhor do que reagir é pro – agir. Antes que os enleios da sociedade mesquinha se agarrem com força a mim e me tolham só pela inerte vontade de me reduzir a coisa sem significado. Preparo-me com a liberdade de que sempre disponho para poder fazer as melhores escolhas, ou pelo menos ter a possibilidade de escolher entre várias alternativas.

Meandros num cristal de sal

Perdido em estranhos meandros.
Nos prismas de uma esmeralda de sal vês reflectido mais que um presente, vês também passados e tentas ainda adivinhar futuros. Em vão, creio. Na verdade, todos estes tempos se entrecruzam sendo difícil às vezes perceber-lhes as fronteiras. Mas mais difícil se tornará se as procurar com um olhar introspectivo, afastado do mundo real, só perto da tua exclusiva realidade.

Peso morto

Pesado, uma letargia, preso a um pensamento entaramelado. Um sorvedouro de energia. O colapso de uma personalidade. Todo o escape se torna num buraco onde me cimento e afundo.


Sociedade

Esta sociedade não está preparada para nos dar um rumo, temos de ser nós a procurá-lo. Por nossa conta, frequentemente em meio hostil. ( Lamentações )

Dias

Os dias estão difíceis.
A ideia boa de um dia é a de o viver concentrado no presente.
Valorizar os momentos sabendo que procuro os que signifiquem algo que me alegre. Esse procurar é algo no sentido de não desistir, por amor a mim mesmo e a quem goste de mim.
Pô, que isso é coisa séria, mêmo!


Festa

A sociedade á uma festa, ....
´Se não entrarmos na festam,...

Desassossego

E um desassossego,o que me vai na alma e me faz sofrer. Querer tudo resolver e nada fazer, a não ser afogar-me nesta amálgama.
Que pobre destino este, chegar ao fim de um dia e perguntar-me: “Que fizeste?”
E a respota vir vazia. Nada!
E logo de seguida: como pudeste?
Certo é que o importante é partir para ainda mais adiante
Deixar este presente bem distante,
E procurar refúgio deste pensamento lancinante.


Temores

Coisa que mais temo:
Sentir algo e não o saber,
Ter vontade de algo e não o saber.

Nunca


A profusão dos milagres ocorre escassa na terra do nunca. Aí tudo é o chegar mais além na resolução do impossível num domínio que, inexistente, se esboroa num àpice. A tertúlia em redor do tema, abraça o cerne da questão sem nunca atingir o seu núcleo.


O LABIRINTO


O porquê desta incerteza
Uma dor, a dureza,
A subida de uma agrura no meu interior
Mas que estaca, mais do que me sobressalta
E não tenho a esperteza de lhe dar uma boa saída
Canso-me fico de cabeça às voltas, perdida
Escrevo estas linhas mas não controlo quase nada o seu destino
Merda de equação um problema sem solução
Triste figura um grave senão
Parece-me que procuro o caminho mais complicado para atingir os meus objectivos
Se calhar seria até simples procurar o que é mais simples
Não seria.Uma destas manhãs acordaria e nada seria mais o mesmo
Este gerar de conflitos altamente fúteis, vazios com realidades imaginárias e
Pessoas reais.A carga negativa que parece transportar-se a si própria, mas que na verdade sou eu que a transporto.E que não me larga, não a largo.
Um dia a dia a conviver com esse pequeno monstro que só existe algures na minha cabeça não faço ideia exacta onde.Uma pequena fantasia com energia própria e existência imprópria.


É um problema. É mesmo uma merda desagradável. Não é, ainda por cima, fácil de descrever. Para começar, direi apenas que só eu a conheço, isto porque só eu a sinto dentro de mim, na minha mente. Apesar de dizer isto não quero dizer que a conheço em todos os seus aspectos, isto porque à semelhança do que sucede com qualquer outro objecto cognoscível, haverá sempre coisas novas para descobrir, e além disso, se a conhecesse perfeitamente julgo que estaria em circunstâncias diferentes pois dominaria melhor o problema, em que às vezes me encontro, apesar de considerar que me sinto bem. Contudo, o facto de ao longo do tempo ter vindo a conhecer progressivamente melhor do que falo julgo por isso possuir um domínio mais claro do fenómeno. Em relação ao problema a que me refiro estava a inicialmente a pensar em falar apenas de um aspecto particular, o que acontece é que, estranhamente, não consigo deixar de considerar um aspecto parcelar como o total do problema apesar de este representar simplesmente uma parte do problema ou talvez até mais propriamente uma manifestação deste. E o inverso é também verdadeiro dado que na verdade me é impossível de distinguir o todo da parte. Penso que a impossibilidade de dividir em partes o problema, poderá ser explicado por este ter origem e actuar apenas no interior da minha mente, como eu disse, não sendo mesmo nada fácil de distinguir onde começa e onde termina, qualquer parte dele poderá ser tomada como o todo numa ilusão causada pela entropia e pela introspecção. Ou se calhar mais simplesmente pode-se apenas tomá-lo como indivísivel e como um todo e uno com correspondência a um Eu (eu) . Mas remontando aos motivos que me levaram a iniciar a escrever estas ideias no papel, no écran mais propriamente, a expressão de uma sensação desagradável, e que na verdade acabam por ser sensações desagradáveis, criadas por este problema, e que, diga-se, ao longo do tempo tenho experienciando de modo diferente. Dou como exemplo estando a conversar com alguém, tenho parte da minha mente a tentar perceber o que esse alguém diz e a outra parte a pensar em algo diferente, num sorvedouro da minha atenção que eu penso não conseguir controlar muito bem. Este fenómeno não é em si muito doentio, já mo disseram, e eu acabei por concordar que sim, mas o problema é quando entra em descontrolo, o que a mim não me parece nada improvável de acontecer. Esta convicção, contudo, radicará sobretudo no facto de tal já ter acontecido e do receio de que venha a suceder de novo. De qualquer modo, mesmo que as coisas não tomem um rumo tão trágico, e não tomarão com certeza, fica mesmo assim muito frequentemente um efeito claro de alheamento do que se passa e do que se conversa à minha volta. No momento em isto sucede não consigo fazer mais do que viver a situação, a real, e que vivo, e a que se passa na minha mente em paralelo, mas sem muitas conexões directas com o desenrolar, caótico e aleatório, ou se calhar até nem por isso, dos acontecimentos reais. Posteriormente, recordando o momento e buscando uma interpretação para ele, numa obrigatória destrinça entre o que sucedeu, como o senti, como me expressei para os outros, tenho de fazer ainda adicionalmente uma purga de tudo o que fui criando e imaginando nalgum local esconso da minha mente. Aqui surge portanto a necessidade de dar resposta à seguinte questão: A de saber o que fez parte daquilo que eu sou, senti, penso e desejo e aquilo que resulta de uma deriva da realidade. É uma interpretação muito complicada de completar, e acaba por ser sempre uma espécie de esforço inacabado e muitas vezes leva a que me sinta sempre a viver uma vida em suspenso, não conseguindo consolidar nada. Esta sensação penso que pode dar lugar a uma ideia de vazio que se instala subrepticiamente e dificilmente me abandona. Tudo se passa, contudo, com maior ou menor grau, tenho dias,... como todos, é como uma dor de cabeça que te pode tornar mais ou menos disponível para estar com o outro com a diferença de que aqui a dor de cabeça não se sente, vive-se por dentro e espelha-se no meu comportamento, mas que tal qual uma dor de cabeça não é previsível quando vai ocorrer. Esta imprevisibilidade leva se calhar por vezes a que não tenha investido, e talvez mesmo não invista muito, nos momentos em que estou com os outros dado que não sei se não estarei em fracas condições de usufruir da partilha da sua companhia. Este aspecto contudo também tem de alguma maneira raízes históricas, em que durante longos períodos, que penosamente se arrastaram, o convívio com os outros esteve muito limitado, em que a dimensão do que se passava na minha mente ultrapassava em larga escala o que sucedia fora e tentava eventualmente interagir comigo. Seria algo como participar, ou melhor assistir, a uma conversa ou a um jogo, por trás de um biombo, sem ter modo de o desviar, ou de o rasgar, porque ele estava simplesmente ali, e em que por outro lado a alternativa de desistir de participar nessas conversas ou jogos significaria algo bem pior com a certeza implacável de perpetuar a existência daquele biombo torturante. Essa barreira e clivagem entre o meu interior e o mundo senti-a de diferentes modos ao longo do tempo: A partir de uma determinada altura que posso chamar um ínicio, se o ponto de partida é a manifestação do problema a que atrás me referi, foi como um abrupto descolar da realidade. O que se passava à minha volta tomava o seu rumo próprio, e eu estava totalmente inibido de poder agir no sentido de o influenciar, mesmo que o quisesse ou desejasse. Tornei-me um observador forçado dos acontecimentos, por vezes não me eram desagradáveis, outras vezes sim, mas eu só o podia sentir. Nesse ínicio qualquer reacção que esboçasse mentalmente não tinha qualquer possibilidade de vir a ter repercussões no mundo exterior, transformava-se numa chicotada a mim mesmo, como um rebentamento de um mártir suicida no meio do deserto, estava mudo, ouvia, e não podia responder. Nesse período, tive de me conformar com o facto de todas as situações emocionais em que sentisse que de algum modo estivesse envolvido não esperassem por mim e foram naturalmente evoluindo por elas próprias restando-me a mim assistir. Não lhes era indiferente mas sentia e agia como se o fosse, numa espécie de teatro para mim mesmo, em substituição do teatro da realidade. Eu seria como um actor, ou candidato a actor, que a meio de uma peça subisse ao palco, desenquadrado da cena, do vestuário, do texto, e segurando o miserável papel de um outro texto que não o que se representava e que tentava infrutíferamente estabelecer diálogo com os restantes actores que, impávidos, prosseguiam as conversas e gestos das personagens que lhes cabiam. Os actos iam-se sucedendo e ao mesmo tempo que ia assistindo ao desenrolar da peça, buscava no meu texto os diálogos mas acabando sempre por me sentir desenquadrado.


A uma rapariga *

Fala-me antes de ti...
Que posso eu dizer?
Conheço-me desde que nasci
Quem sou, hei-de saber!

Se bem que não conheça tão bem,
O trilho por onde sigo,
E o que está além,
Se fortuna ou pérfido destino!
( Como diria, trágico, alguém de pouco tino,
Nunca se conhece, não é?
Por muito que tente, não consigo! )

Mas de ti, não sei nada...
Deves ter ideia bem melhor,
Uma pintura a cores ilustrada,
Ou argumento que saibas de cor.

Podias desvendar um pouco o sorriso,
Ou contar-me um quase segredo,
Prometo-te um ouvido vivo,
E que estarei muito atento!

* - vulgo: gaja

Sentir

Pusilânime,
Cobardia de viver os sentimentos,
Pior que isso: Lamento-os,
Fujo, reservo-me, perco-me,
Em meus próprios desentendimentos.

Ânimo!
Existe contudo algo mais além,
Não um esconderijo distante,
Antes um encontro com alguém
Para quem tu és importante.

( Em resumo:
Uma razão forte e que basta,
Para que tu, qual pôtro filhote,
Deixes essa tua mínima cerca rasca,
E saias correndo mundo fora a galope. )


À vela

Deixo o cais da calheta,
Sorte! O vento vem de amura!
Pior se fosse de alheta...
É ouvir como o mar murmura;
E deixar o pano da vela correr.

Expressões

Doces lágrimas,
Escancarado riso
Frio olhar
Longe no mar...
Buscando o que preciso.

Coisas

Velha parede rugosa,
Se souberes como é bela
A singela flor rosa
Que sela viçosa
Esta coisa...

Pepino e requeijão

Godofredo sensaborão,
De manhã comia pepino
À tarde é que não,
Certo dia lhe oferecem:
E um bifinho, não?
Godofredo, teve medo,
Mas como insistiram,
Logo disse, já em destino:
Quando muito requeijão!

Busca

Pensas, mas não alcanças,
E o que até o teu olhar busca,
Envolvido em ilusórias farsas
Fica longe, com elas se ofusca...

Golfinho

Veloz, gracioso,
Dorso lustruoso;
Em saltos fura o azul,
Aproxima-se, vai para o sul;

Tanto volteio, parece que graceja;
Só lhe falta o riso para ter a certeza;
Por uns momentos, oferece a companhia,
E algo de novo para contar ao final do dia

Mas como tudo o que é efemero,
Desaparece, funde-se com o oceano;
Deixando, apenas o encanto de olhar
Para a simples beleza do Mar.

A ver o mar

Ressoam, amplas, aos meus ouvidos,
São efémeras, do mais efémero que se pode ser,
Que é algo que existe, mas com destino a deixar de Ser.
Mas a sua força constante, persistente, leva-me a adivinhar a grandeza que se oculta por trás da espuma que se desfaz contra a rocha. Um vasto e largo mar desafiando o tempo com tamanha audácia que o consegue domar e pô-lo a seu lado e a seu favor:
A majestosa aliança, soberana sobre os elementos,
Iluminada ao sol poente
Trouxe-me um pouco de luz ao modo como penso nos problemas e sinto passar o tempo.
Uma magnânime redenção ao meu pequeno coração.


Guarda

Forte
Fiel
Formosa
Farta
Fria
e...
Esdrúxula!


Sentimento

Um sentir límpido e puro,
O puro da pureza,
É algo sempre seguro,
No seio da incerteza...

Poemas em viagem pelos Balcãs

Estes eslavos do sul...
Em bolandas andas!

Regresso a encruzilhadas

Parecia que andava, mergulhava?...

Em círculos, no mesmo local...no mesmo tempo....

Há tempos incontáveis que caminhava,
O passo era ligeiro apesar de tudo,
Esquecido do que já andara,
E por isso não se cansava,
Mas ia em busca de algo, procurava,
Sem saber ao certo o quê,
Acontece tanto, porque não mais uma vez?...
E andando sempre chegava.
A um encontro numa encruzilhada,
Falava disto e daquilo, relembrava,
E o passado, um país distante, se aproximava.
Surgia sem aviso, do meio do nada.
Não sei ao certo ainda se era eu que o encontrava,
Ou se era ele que me achava.
Nunca saberei e talvez não interesse assim tanto.
Mais importante é que tenha havido esse encontro
Regresso a encruzilhadas.

Desassossego

Um desassossego, permanente não o nego.
Um subtil desvio da àgua pura do rego.
Perde-se para as rochas, ervas, em desperdicío,
Inútil o canal feito com tanto sacrifício.

É pegar no sacho ou usar tubo de cola,
Só por preguiça se pode desistir,
Não lutar, nem puxar pela tola
Somente uma natural vontade de existir.


Ser

Um ser, a forma humana,
O sentir em carne e osso,
Tudo é breve, curto espaço,
Entretanto em tudo o que faço
Procuro ser feliz quanto posso!


Entranhas

Sinto que sangro,
Sangro de mim,
A cor do meu sangue,
Rosa ou talvez jasmim,…
No lábio descaído
Pela dor que sinto
Murmura o espanto
De um pensar traído
O querer tudo abarcar,
Que insensato pensar,
O mundo é livre!
Nunca ninguém o conteve.
Bem mais simples seria
Só ser, sentir e estar,
Entranhas prenhes de alegria
E muita vontade de (me) amar.


Dane-se


Tento fugir do mental,
Buscar a alma perdida,
Cingir-me ao essencial,
Ao que é simples na vida,
Que se lixe a poesia!
Às vezes é pura heresia!

Dane-se – Redux

É que é já a seguir!
Um ponto redondo, e caiu no fundo,
Aproximo-me mas perco-me de tudo,
Quando o meu ser está quase lá,
Vou pedir que me devolvam para cá,

Uma ilusão, desiludida,
Perco o norte, dimensão,
Alma perdida ...
Cingo-me ao essencial,
Ao que é simples na vida,
E merda para a poesia!
Às vezes é pura heresia!

Dormir um sono, Que sossego!
Sentir o toque suave na ponta dos dedos,
Uma conversa interessante e animada,
Em mesa bem servida e regada.



Alento


Às vezes torna-se tudo tão absurdo,
Um esforço imenso varrido pelo vento,
Um grito de revolta a um mundo surdo,
Obriga-nos, faz com que se tente,
Buscar em mais um esforço, novo alento.

Refúgio

Gosto de umas letras e de versos,
Com elas tudo o sonho constrói,
São um refúgio em tempos adversos,
Para onde fujo se o real me dói

Voragem

Contra uma estúpida voragem,
Gritei,tem calma, pára!
Senti quanta era a minha coragem,
Contei quantas vezes antes me escapara,
E como numa brecha, entrando uma aragem,
Que se tornou vento e depois tempestade,
Já não era só uma ânsia e angústia,
Que me quebravam,
Agora ventos e marés contra mim
E a minha vela se voltavam,
Mas o barco, inquieto me apelava,
E o meu destino me ditava,
Tinha de seguir viagem.

Corrida

Corro, que corro,
Sangro, enfim...
Socorro que morro,
Sem ninguém saber de mim!

Aurora

Vislumbro já a aurora,
Ponho um pé, o nariz de fora,
Pudesse eu já caminhar,
No caminho fresco desse lugar,
Aí onde há a luz
E à noite estrelas a brilhar.

Shity shit


Turn around
I think on a lots of shits
I’m tired. Everything saddens me
A beautiful sound, one single moment


Acha?!...

A borrasca
A borracha
A bolacha
A laracha
A tacha
Até acha...
Acha?!



Rodagem

A paz que um filme traz,
Uma reconciliação com nós mesmos,
Mesmo que seja o melhor que queríamos.

Se o mundo fosse uma roda, ela estaria parada,
Eu estaria nela pendurado,
Enquanto rolava sobre a estrada.

Simples...

Um pôr do sol, a praia,
Um sorriso teu, de catraia,
Um dia tão cheio de alegria,
Que se não acabasse, Bom seria!

Tamanha é esta a paz que um abraço nos traz.


Tacto

Tocar-te, suave, com a mão,
Olhar nos teus olhos, doce ilusão,
A manhã poisada no teu rosto,
Libertar-te do traje que levas posto.

Razão

A razão não me mostra tudo,
E até me esconde algo,
Devia sabê-lo,...Não sou parvo.

Aperto

Uma janela, o ar
Ver-te a ti, desperta-me!
Chega aqui, aperta-me!
É que só, nem consigo pensar,
Como uma flor sem pétalas,
Pássaro sem piar.

Aberto

Acordo...
Adormeço...
O que eu perco?
O que eu peço?
O tempo passa
Nele, tropeço
Em desgraça
É no que eu penso
Olho para trás
O que eu deixo?
Um quase nada
Terá sido desleixo?
Ou sou eu que não presto?
É um aborrecer
Este não saber
E a saída que procuro
Não quer aparecer
Mas que isto é duro,
Duro osso de roer
Vamos, vais vencer
Será o que tiver que ser
Um passo para a frente
E coragem com a gente!


Sonho de uma noite de Verão


A pose de um foragido flamingo
A cor da rosa, pétala, corola
O sol poente, vermelho, quente
E um calor suave, envolvente
Sobras de um resto de dia abrasador
Em breve o céu estrelará, luminoso
Mais a sua lua amarela, solitária donzela
Cúmplice silente, que pela noite vela
Aqui e ali, o cantar de um grilo
Enérgico e atento, ouvindo ruído
Deixa a serenata, adopta o sigilo
No pinheiro, as pinhas abertas, generosas
Onde, branca, pia a misteriosa coruja
Que depois, foge, num largo bater de asas
Ali em baixo, as ondas cavalgam nas ondas
Sem parar, sempre frescas, a rebentar
Durante o dia, brilham em raios de luz
À noite, incandescem, mágicas, ao luar
De manhã, o sol virá, vivo, a acordar
Despertar-nos desta noite agora a começar.


D.Luís I


Após cruzar a ponte, sobranceira e altiva,
Sobre as duas encostas que se entreolham mutuamente
Alcanço finalmente
De uma a margem oposta
Esta verde e fresca de relva adornada
Que ao sol quente se deixa ficar espreguiçada

De entre os muitos lugares em que ali se pode parar um pouco,
Uns já com banco e encosto feito,
Outros mais escondidos
Que têm ainda de ser imaginados,
Escolho um para meu poiso e descanso.
Um calor invade-me a cara e o sereno correr do rio tranquiliza-me o espírito
Na àgua, aqui e ali, os reflexos de luz iam pontuando as suaves ondulações do verde escuro

O casario, ali de frente, acotevela-se baixo e estreito
Uns edifícios são cinzentos, querem passar despercebidos
Talvez por isso parecem suspeitos
Ou então é só a curiosidade que desperta tudo o que é discreto
São sólidos e graníticos e, de tão austeros, impõem o seu respeito
Outros, mais folgazões, deixaram-se colorir de tons claros
E aperaltam-se, um pouco tímidos, pela sobriedade dos vizinhos do lado

Deixo-me ficar mais um pouco a sentir o tempo desacelerar
Ao ritmo lento das àguas no cais a marulhar
É o segredar de um rio que já viu muito e pouco se sobressalta
Mas que, bondoso, gosta de partilhar essa sua paz e serenidade
Com quem o quiser escutar e que por ali passa

Regresso de novo ao outro lado
Que este dia, como os outros, tem fim marcado
E despeço-me de tão plácida companhia
Pelo caminho cruzo-me com mais gente
Que como eu também ali veio à beira-rio passear neste final de tarde
Aproveitando o momento para conversar um bocado
Não só com os seus botões, seja o caso, que não o meu, de se estar acompanhado.


Buraco

Um pequeno buraco
Caberei nele?
Escondido do resto do mundo fugido
E Ele lá fora, E eu respiro, e eu suspiro
Mas então, a que aspiro?
É que nas escolhas dos sonhos que fazes
Não há alternativas, não há hipóteses
É um já está, ou melhor, ainda não está...
Na verdade, é mais um, logo se verá!
Porque como se sabe, estes incluem futuro
E não se pode saber o que o tempo dirá
Mas atenção não é cara ou coroa
Isso aliás não seria assim tão na boa
Quero dizer, não é nada assim tão nítido
Pois então, se ainda não existe
Não pode ser como se já tivesse existido
Mas contudo lá chegará o dia
E depois o que foi, já não poderá ser alterado
E este receio deixa-me o espírito atormentado
Na verdade alguém diria, que sou meio atrofiado
Não sei dar-me, vivo sempre reservado
Mas quem não se dá, também não vive...
E assim, em pequena roda sobrevive.
Mas é triste, e pode-se até chamar burrice
Pois o que é por demais óbvio, é negado
E, claro, não há proveito nisso...
Pois a redoma de um mundo fechado
Nunca foi bom lugar para se ficar hospedado.

2007-12-26

De balde

DE...




etimologia : do árabe "bâtil" ('inútil, vão')

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